12 fevereiro 2009

O Castelo Encantado de Sua Deputância

Era uma vez um deputado que mandou construir um lindo castelo. Haveria de ser um palácio enorme para guardar muito ouro, jóias, carrões importados, telões de plasma e tudo o mais o que a sua rica propina podia comprar. Ele morava no reino de Tão Tão Corrupto, uma terra maravilhosa irrigada com verbas federais sempre fresquinhas, legislada por piratas inescrupulosos e habitada por um belo povo adormecido.

Durante a construção da estrutura nababesca, um dos súditos do deputado comentou com o soberano:

- O sinhô vai me adescurpá, mas esse castelo não vai dar muito na cara, não? Sua Deputeza Federal não prefere fazê uma mansãozinha cheia de jaccuzzi e jetisqui na garagi como todo deputado faz depois do primeiro mandato?

Mas o senhor deputado queria mesmo era mostrar toda a sua deputância, que não era pouca:

- Pois se não fosse pra mostrar na cara, eu contruía era metrô que é escondido na terra e muito mais barato que castelo, uai!

- Ara que o sinhô tá brincano com fogo! Um dia o povo descobre esse castelo e o sinhô vai se queimar!

- Pare de dizer bobagens, homem! Esse castelo se erguerá sobre Tão Tão Corrupto, uma terra de cegos! Até a nossa capital, Corruptília tem castelos bem mais escandalosos do que este.

E assim, pedra desviada por pedra desviada, o castelo foi sendo levantado. Cada superfaturamentozinho, cada propininha e cada negociata, por menor que fosse, viraria uma parte da suntuosa construção. Os alicerces vieram do que seria o tratamento de esgoto de 13 cidades, as pedras saíram do desvio de mais de 50 escolas e, graças aos hospitais que nunca saíram do papel, o palacete foi forrado com madeira de lei, pisos de mármore e tapetes persas. O cimento sequer precisou ser comprado, foi “sobra” de uma ponte que nem foi concluída.
Tanto carinho e dedicação do deputado não foram em vão. Ao contrário das obras públicas, o castelo deputal foi terminado. Foi quando o súdito voltou:

- Sua Deputeza Federal! Mas tá bonito demais, sô! Dá até medo!!

- Ara, larga a mão desse medo, sô!

E tudo ia bem em seu lindo palacete, até que um belo dia (para o reino, não para o deputado, que fique claro) Sua Deputeza resolveu deputar onde não devia.

Achou-se de querer o cargo de xerife deputal, o homem que era a lei para os homens que faziam as leis e que não cumpriam lei alguma. Foi aí que a coisa toda se lascou e a profecia do capiau se realizou.

Alguém acabou olhando para o castelo, como havia previsto o súdito, e percebeu que Sua Deputeza não o havia declarado em sua lista de bens. Algo compreensível, uma vez que alguém com tantos imóveis pode se esquecer dos menores de vez em quando. Mas não teve jeito, as fezes já estavam sendo conduzidas ao ventilador e a vaca já tomava o seu caminho rumo ao brejo.

Tal qual o encanto que construiu o castelo, a maldição caiu rápida e o fez perder a estrela do peito antes mesmo de colocá-la. O deputado ficou deputíssimo da vida e colocou a culpa nas bruxas malvadas perseguidoras de proprietários de lindos castelos. Porém, mesmo sem o cargo que tanto queria, abençoou as fadas que o fizeram morar em Tão Tão Corrupto, pois ouvira dizer que na França decapitavam-se os monarcas encastelados.

Com a cabeça entre as orelhas e bem grudada ao pescoço, Sua Deputeza seguiu a vida tranquila em seu castelo e ainda recebia votos dos ogros adormecidos lá do pântano que assim viveram roubados para sempre.

4 comentários:

Anônimo disse...

Fabio, mais uma obra prima da fantástica fábrica de sonhos do planalto central, pena que o final é sempre o mesmo...

E viveram impunemente felizes, para sempre.

E Fabio, veja outros pequenos exemplos das coisas que acontecem por aqui...

http://bruceediana.wordpress.com/2009/02/10/impunemente/

Um abraço, WaldirPC + Bruce

Mauro Castro disse...

Rapaz, vim parar aqui por recomendação de minha amiga Clarice e fiquei encantado. O blog é tribom, mesmo. Parabéns.
Há braços!!

Anônimo disse...

Quaquaraquaquá!
Fábio, só você para transformar tanto excremento nessa fábula fabulosa.
Vai ter link no meu bloguinho outra vez.
Abraço.

Anônimo disse...

Deputalosquepariu! Tudo tão verdfade...{D.}