17 setembro 2007

Mamodecobra Parte V - Administração de Pizzaria

Mamodecobra Parte V
Capítulo 8.492
Administração de Pizzaria

No Brasil, corrupto que se preze deve ser também um ótimo pizzaiolo. Para o estrangeiro que lê este indeclinável manual cabe uma explicação. De modo diferente à Itália, a pizza por aqui é parte indissolúvel da cultura corruptiva brasileira. Nestas terras, todos (absolutamente todos) os desfechos processuais contra corruptos de alta classe ($$$) contam com a cheirosa iguaria italiana para encobrir o mau cheiro remanescente. Ações judiciais, processos de cassação e até multas de trânsito contra os poderosos ($$$) terminam numa gaveta e os indiciados numa pizzaria.


Um leitor do mundo civilizado, que só conhece o Brasil pelos jornais, chegou a me perguntar se a palavra “pizza” teria aqui o significado de “cadeia”. Ele queria entender a expressão “terminar em pizza”. Como explicar para ele que essa pizza significa pura e simplesmente pizza? Acostumado à física newtoniana, o nobre estrangeiro pensa de acordo com uma fórmula estrita: corrupção + julgamento = punição. A sofisticada criatividade brasileira (uma evolução da barbárie) gerou uma nova fórmula que não tem o compromisso com a lógica:


corrupção + julgamento + $$$ = calabresa com borda recheada de catupiry


Como essa impressionante fórmula, incompreensível aos cérebros mais privilegiados do mundo que bebe água sem germes, foi desenvolvida é uma longa história. O brasileiro não só acrescentou uma parcela ($$$) à equação original e inverteu seu resultado como também criou um ambiente propício para que ela fosse verdadeira em qualquer situação de temperatura e pressão, seja qual for o tamanho ou o peso do primeiro fator, a corrupção. Finalmente, a ciência encontrou um elemento mais imutável do que a velocidade da luz proposta pela teoria da relatividade de Einstein, a pizza brasileira!


É bom explicar que parte desses desfechos impressionantes vem do fato de os corruptos serem julgados por seus pares. Vale a máxima: ladrão que perdoa ladrão tem mais futuro na corrupção. Uma intrincada e emaranhada rede, bem maior que a internet, liga o rabo de cada corrupto a centenas de rabos de outros colegas. Quando um corrupto entra na berlinda, uma mensagem é enviada aos rabos dos corruptos a ele conectados informando que ele deve sair da reta. Para isso, o jeito mais seguro é tirar da mesma reta o rabo do parceiro em perigo por mais preso que ele possa estar.


Esse avançado sistema de defesa protege o maior patrimônio ecológico-artístico-científico-cultural do Brasil, a corrupção. A espécie que a pratica, por sua vez, degrada todo o patrimônio ético-financeiro-moral do país e destrói o ecossistema que permite que o chamemos de nação, uma vez que seu povo não goza desses direitos e os que gozam, não podem ser chamados de brasileiros.

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